6G: a Starlink é o futuro das redes móveis?

19/02/2022 12:37

Por Christian Mailer.

A Starlink ficou conhecida no Brasil após a Anatel autorizar a empresa a oferecer seus serviços de Internet via satélite no país [1]. Segundo a companhia, a rede de satélites de baixa órbita são capazes de prover uma conexão de alta velocidade (entre 100 Mb/s e 200 Mb/s) e baixa latência (em média 20 ms) em áreas remotas que até então possuíam conectividade fraca ou nenhuma conectividade [2]. Esse tipo de serviço é especialmente útil para cobrir zonas isoladas e aumentar o acesso da população a plataformas online, tendo em vista que quase tudo pode ser realizado pela Internet.

Órbita do StarlinkOs satélites da Starlink ficam em uma órbita baixa. Fonte: Starlink.

Serviços de Internet via satélite já existiam anteriormente, porém os altos custos, a baixa qualidade da conexão e o limite da franquia de dados não possibilitaram que esse tipo de acesso fosse oferecido em maior escala, estando restrito, normalmente, a regiões específicas.

A nova solução disponibilizada pela Starlink tem como público alvo os consumidores finais e pode ser contratada no Brasil por 530 reais mensais e com um investimento inicial de 3000 reais para compra dos equipamentos (sem contar impostos) [3].

Lançamento de satélites da StarlinkLançamento de satélites da Starlink. Fonte: Starlink.

Com o desenvolvimento desse tipo de tecnologia e, principalmente, com a sua disponibilização para o consumidor, uma questão que pode ser levantada é: a Starlink é o futuro das redes móveis?

Uma resposta para a pergunta do parágrafo anterior pode ser elaborada após analisarmos o que vem sendo discutido pela comunidade especializada e acadêmica acerca da sexta geração de rede móvel. Segundo muitos pesquisadores, o 6G deverá contar com uma ampla rede satelital que seja capaz de cobrir não somente comunicações terrestres, mas também espaciais. Em outras palavras, toda a superfície da Terra, mesmo no meio da Amazônia ou no Polo Norte, e o entorno do planeta, incluindo naves espaciais, terão cobertura 6G.

Ao comparar as propostas de requisitos de cobertura da sexta geração com o serviço oferecido pela Starlink, podemos afirmar que a empresa está seguindo na direção certa para atender as demandas de uma futura rede 6G, porém, cabe ressaltar que uma conexão via satélite não é uma conexão celular. A última é caracterizada pela cobertura em modelo de células, em que a conectividade de uma pequena área é mantida por uma antena. Justamente por ser um modelo de maior proximidade entre os dispositivos de usuário e as antenas, a arquitetura celular tende a ser mais rápida, robusta, flexível e escalável.

Se tentarmos utilizar todos os casos de uso do 5G que são cobertos pelos tipos URLLC (Ultra Reliable Low Latency Communication), eMBB (enhanced Mobile Broadband) e mMTC (massive Machine Type Communication) em uma rede satelital, veremos que não será possível atender usuários que necessitem de baixíssimas latências, alto fluxo de informações e longa durabilidade de bateria. Ou seja, aplicações industriais, de smart cities e Internet das Coisas não podem, na maioria das vezes, serem conectadas via satélite, já que seus requisitos de funcionamento não serão atendidos.

Outro fator negativo para as tecnologias de comunicação via satélite é a suscetibilidade a interferências, o que diminui a confiabilidade da rede e pode provocar instabilidades na conexão, no entanto, ainda é vantajoso para usuários que não possuem nenhuma ou com má cobertura de rede celular ou fixa na sua região.

Sendo assim, a Starlink pode não ser tão vantajosa para aplicações terrestres que possuam requisitos restritos, mas exerce um papel importante para aumentar a conectividade terrestre e espacial e serve como uma ponte entre outros tipos de tecnologias, assumindo um dos papéis de destaque nas redes 6G.

Referências

[1] Sant’ana, Jessica. Anatel autoriza Starlink, do empresário Elon Musk, a oferecer internet via satélite no Brasil. G1. Disponível em <https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/01/28/anatel-autoriza-starlink-empresa-de-elon-musk-a-oferecer-internet-via-satelite-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 15 fev. 2022.

[2] Starlink. Homepage. Disponível em <https://www.starlink.com/>. Acesso em: 15 fev. 2022.

[3] Malar, João Pedro. Internet da Starlink, empresa de Elon Musk, custará R$ 530 por mês no Brasil. CNN. Disponível em <https://www.cnnbrasil.com.br/business/internet-da-starlink-empresa-de-elon-musk-custara-r-530-por-mes-no-brasil/>. Acesso em: 15 fev. 2022.

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