Protocolos de comunicação

15/07/2023 16:53

Sumário:

  1. Camadas de Protocolo
  2. Pilha TCP/IP
  3. SCTPLB e SCTP
  4. L2TP
  5. Protocolos de Ethernet Industrial

 

1 Camadas de Protocolo

O modelo OSI (Open Systems Interconnection) é um modelo de referência baseado em uma proposta da ISO (International Standards Organization) para padronização dos protocolos utilizados em redes. Ele consiste em sete camadas e foi projetado seguindo os seguintes princípios de [1,2]:

  • Criação de uma camada sempre que uma nova abstração é necessária [1].
  • Cada camada possui uma função bem definida [1].
  • Seleção das funções de cada camada com o objetivo de estabelecer protocolos internacionalmente padronizados [1].
  • Os limites entre as camadas devem ser escolhidos de forma a minimizar o fluxo de informações através das interfaces [1].
  • O número de camadas deve ser grande o suficiente para evitar a necessidade de agrupar funções distintas na mesma camada por necessidade, mas também deve ser pequeno o suficiente para evitar que a arquitetura se torne complicada [1].

O modelo OSI (Figura 1) foi desenvolvido para permitir a conexão de sistemas abertos, ou seja, sistemas que podem se comunicar com outros sistemas [1].


Figura 1 – Ilustração do modelo OSI [2].

A camada de aplicação tem como função o registro de requisições. Aqui, um protocolo como o HTTP — protocolo base da World Wide Web — carrega informações do webserver e as passa para as camadas abaixo (de uma maneira que as informações sejam interpretáveis) [4].

A camada de transporte é responsável pela comunicação fim-a-fim, em outras palavras, aplicações dessa camada só se comunicam com seu receptor. São dois os principais protocolos dessa camada. Um deles é o TCP (Transmission Control Protocol), que é um protocolo orientado à conexão — o que significa que a transmissão dos dados só acontece se antes for estabelecida uma conexão (que é fechada após a transmissão dos dados), e que garante que os dados são entregues e livres de erro — e é adequado ao envio de informações que devem ser recebidas de forma confiável, como uma página web e um e-mail. O outro é o UDP (User Datagram Protocol), que envia os pacotes sem nenhum tipo de retransmissão (não garantindo assim que todas as informações serão recebidas e que não haverá erros), e que é adequado para comunicações sensíveis ao tempo, em que descartar pacotes é melhor do que esperar, como o live streaming [4].

Na camada de rede, um protocolo como o IP (Internet Protocol) coloca os pacotes na rota de destino correta. O responsável por esse processo são os roteadores — dispositivos que implementam apenas as três camadas mais baixas da pilha de protocolos —, que fazem isso ao inspecionar o endereço IP de destino [4].

A camada de enlace, gerencia a transmissão dos pacotes de um dispositivo ao outro, garantindo que ele seja re-transmitindo adiante caso ainda não tenha chegado ao seu destino final [4]. Exemplo: Ethernet.

Por fim, a camada física lida com detalhes mais finos da comunicação, como a tensão do sinal transmitido [4].

Em todos os níveis da transmissão um protocolo recebe um pacote de dados proveniente do protocolo que se encontra na camada acima na forma de uma unidade de serviço de dados, ou SDU (Service Data Unit). Ele processa o pacote, adiciona um cabeçalho que descreve o processamento realizado e gera o resultado na forma de uma unidade de dados de protocolo, ou PDU (Protocol Data Unit). Esse processo se repete em todos os níveis do modelo OSI, onde a recém gerada PDU servirá como o SDU da próxima camada. Isso continua até que o pacote atinja a camada mais baixa de todas, momento em que ele é transmitido. O receptor inverte todas essas operações, usando os cabeçalhos que foram definidos durante a transmissão, de modo a desfazer o processamento feito pelo transmissor [4].

2 Pilha TCP/IP

O ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), uma rede de pesquisa financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, foi um marco importante na história das redes de computadores. Inicialmente, conectava universidades e instituições governamentais por meio de linhas telefônicas alugadas. Com o tempo, a adição de redes via satélite e rádio apresentou desafios de interoperabilidade com os protocolos existentes, levando à necessidade de uma nova arquitetura de referência [1,2].

Essa arquitetura resultou no Modelo de Referência TCP/IP (Figura 2), nomeado após seus principais protocolos. Criado por Vinton Cerf e Robert Kahn, o TCP/IP foi descrito em 1974 e posteriormente refinado e padronizado pela comunidade da internet. O modelo foi projetado para permitir a conexão contínua de múltiplas redes, oferecendo uma base sólida para o funcionamento da internet como a conhecemos hoje [1,2].

Além de promover a conectividade entre redes, o TCP/IP também foi desenvolvido com foco na resiliência. O Departamento de Defesa tinha a preocupação de que a rede pudesse sobreviver a possíveis ataques e falhas de hardware sem interromper as comunicações em andamento. Dessa forma, mesmo que parte da infraestrutura fosse danificada, as conexões permaneceriam intactas, desde que as máquinas de origem e destino estivessem funcionando [1,2].

Uma característica importante do TCP/IP é sua flexibilidade para atender a diferentes requisitos de aplicativos. Desde a transferência de arquivos até a transmissão de voz em tempo real, o modelo foi projetado para acomodar uma ampla variedade de necessidades, tornando-se a base para a comunicação eficiente na internet [1,2].


Figura 2 – Ilustração do modelo OSI vs. TCP/IP [2].

3 SCTPLB e SCTP

SCTPLB (Stream Control Transmission Protocol Load Balancer), é uma solução de balanceamento de carga projetada para lidar com o protocolo SCTP (Stream Control Transmission Protocol). O SCTP é um protocolo de transporte orientado a conexão que oferece recursos avançados em relação ao TCP (Transmission Control Protocol), como suporte a múltiplas streams e controle de congestionamento [1].

O SCTPLB é uma implementação de balanceamento de carga específica para o protocolo SCTP, que distribui o tráfego entre múltiplos servidores ou destinos finais. Ele atua como um intermediário entre os clientes SCTP e os servidores SCTP, garantindo uma distribuição equilibrada das conexões e cargas de trabalho [1].

Uma das principais finalidades do SCTPLB é melhorar a escalabilidade e a disponibilidade dos serviços SCTP. Ele pode ser usado em cenários onde há um grande número de conexões SCTP e a carga precisa ser distribuída de forma eficiente para garantir o desempenho e a capacidade de resposta dos servidores [1].

O SCTPLB funciona interceptando as conexões SCTP dos clientes e redirecionando-as para os servidores de destino. Ele realiza a distribuição de carga com base em diferentes algoritmos, como round-robin (cada servidor recebe uma conexão sequencialmente), balanceamento de carga ponderado (atribui pesos diferentes a servidores com capacidades diferentes) ou algoritmos baseados em métricas de desempenho, como latência ou carga atual dos servidores [1].

Além do balanceamento de carga, o SCTPLB também pode oferecer recursos adicionais, como monitoramento de servidores, detecção de falhas e failover. Ele pode verificar periodicamente o estado dos servidores e remover ou adicionar servidores à configuração do balanceador de carga com base em seu status. Isso ajuda a garantir que apenas servidores saudáveis recebam o tráfego SCTP e melhora a resiliência do sistema [1,3].

4 L2TP

L2TP, em português Protocolo de Tunelamento de Camada 2, é um protocolo de túnel que fornece um método de encapsulamento para frames do tipo PPP, permitindo assim a transmissão de dados do tipo L2 através de uma rede IP, ou L3 [4]. Foi definido inicialmente na RFC (Request for Comments) 2661 [5], de agosto de 1999, e é baseado em dois protocolos de túnel mais antigos: o L2F (Layer 2 Forwarding Protocol) da Cisco, e o PPTP (Point-to-Point Tunnelling Protocol) da Microsoft [4]. É bastante utilizado na implementação de VPN (Virtual Private Network), quase sempre em conjunto com IPsec – já que o L2TP não oferece nenhum tipo de criptografia ou confiabilidade por si só [4].

Uma nova versão do protocolo, chamada de L2TPv3 (Layer 2 Tunnelling Protocol version 3), definida na RFC 3931 [6], datada de março de 2005, foi criada com objetivo de fornecer recursos de segurança adicionais, encapsulamento melhorado e a capacidade de conduzir outros enlaces de dados além do PPP, como por exemplo frames do tipo Ethernet [4].

O túnel L2TP é estabelecido através do encapsulamento de um frame L2TP dentro de um pacote do tipo UDP, que é então encapsulado dentro de um pacote do tipo IP. O endereço de origem e destino desse pacote IP são os responsáveis por definir os endpoints da conexão a ser criada. Uma vez que um túnel é estabelecido, o tráfego de dados é bidirecional [4,7].

O protocolo L2TP separa os frames de dados e de controle. Os frames de dados são manuseados pelo driver do Kernel, enquanto os frames de controles são manuseados no espaço do usuário. Os frames de controle L2TP transportam mensagem entre clientes e servidores e são utilizados para configurar/desmontar túneis e sessões [4,7].

Cada túnel é implementado utilizando um soquete UDP ou L2TPIP. Cada sessão L2TP cria interfaces de rede que seguem a nomenclatura l2tpethN. Para cada túnel e para cada sessão que utilize o túnel são atribuídos, respectivamente, um tunnel_id e session_id exclusivos. Esses ids são usados pelo driver L2TP para a tomada de decisões de como lidar com os pacotes [4,7].

5 Protocolos de Ethernet Industrial

O termo “Ethernet Industrial” se refere a uma série de expansões feitas ao padrão Ethernet — definido no IEEE 802.3 — com objetivo de adequá-lo ao uso na indústria; a fim de se permitir a comunicação em tempo real entre controladores, máquinas e sensores [4,8].

Atualmente, são vários os protocolos industriais baseados no Ethernet, dentre os quais pode-se citar: EtherCAT, Sercos III, Ethernet/IP, PROFINET7, CC-Link IE Field e Modbus TCP [9]. Esses protocolos são, portanto, conhecidos como protocolos Ethernet Industrial. Em comparação com protocolos usualmente utilizados em redes, estes têm necessidades específicas [4,8]:

  • Encaminhamento na camada 2 (sem endereço IP), usualmente feito através do endereço MAC ou VLANs;
  • Transmissão de dados determinística, com tempos de resposta e taxas de dados garantidos;
  • Tempos de ciclo de comunicação curtos e ciclos de comunicação simultâneos com tempo variante;
  • Proteção contra falha de componentes;
  • Sincronização altamente precisa.

Os protocolos Ethernet Industrial foram divididos em três classes, que variam em relação ao desempenho e em parâmetros de implementação, como a necessidade de comunicação em tempo real e o custo. Normalmente, o desempenho da rede melhora da Classe A para a Classe B, e assim sucessivamente. A divisão das classes, bem como sua organização em relação ao modelo OSI, pode ser vista na Figura 3 [4].


Figura 3 – Classificação dos protocolos Ethernet Industrial [9].

A Classe A utiliza hardware Ethernet comercial e a pilha TCP/IP para comunicação. Alguns dos protocolos presentes nessa classe são: Ethernet/IP, Modbus TCP e Fieldbus [4,9].

A Classe B também faz uso de hardware Ethernet comercial padrão, mas não emprega a pilha TCP/IP na comunicação. Ao invés disso, ela implementa um protocolo de dados dedicado que é transmitido diretamente dentro do frame Ethernet. Protocolos pertencentes a esta classe são: PROFINET RT, POWERLINK e EtherCAT Automation Protocol (EAP) [4,9].

A Classe C é a mais performática de todas pois emprega hardware dedicado até a camada 2. Como exemplo de protocolos pertencentes a esta classe, têm-se: EtherCAT, PROFINET IRT, Sercos III e CC-Link IE [4,9].

A rede industrial Ethernet não é otimizada apenas para as necessidades da comunicação em tempo real, ela também foi pensada para ser de fácil utilização em maquinários. Isso é possível por oferecer uma configuração simples e monitoramento de diagnóstico da rede, a fim de reduzir os tempos de configuração dos equipamentos e o tempo de inatividade em caso de falhas. Normalmente, as máquinas industriais operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, o que requer 100% de disponibilidade de rede [4].

Referências:

[1] Liao, Douglas. Implementação de QoS em rede 5G através do Network Slicing.  2023. 75 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia de Controle e Automação, Departamento de Engenharia de Controle, Automação e Computação, Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Blumenau, Blumenau, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/248721. Acesso em: 13 jul. 2023.

[2] TANENBAUM, Andrew S. Computer networks. 4. ed. [S.l.]: Prentice Hall, 2002. ISBN 0130661023; 9780130661029.

[3] ROMMER, S. et al. 5G Core Networks: Powering Digitalization. [S.l.]: Academic Press, 2019.

[4] BARETTA, José Luis Maziero. Encapsulamento de protocolos Ethernet Industrial utilizando a rede 5G. 2022. 74 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia de Controle e Automação, Departamento de Engenharia de Controle, Automação e Computação, Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Blumenau, Blumenau, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/243552. Acesso em: 01 abr. 2023.

[5] IETF. Layer Two Tunneling Protocol “L2TP”. [S.l.: s.n.].  Disponível em: https://www.rfc-editor.org/rfc/rfc2661. Acesso em: 03 nov. 2022.

[6] IETF. Layer Two Tunneling Protocol – Version 3 (L2TPv3). [S.l.: s.n.]. Disponível em: https://www.rfc-editor.org/rfc/rfc3931. Acesso em: 03 nov. 2022.

[7] KERNEL.ORG. L2TP. [S.l.: s.n.]. Disponível em: https://www.kernel.org/doc/html/v5.8/networking/l2tp.htm. Acesso em: 03 nov. 2022.

[8] SIEMENS. Industrial Communication – SIMATIC NET Industrial Ethernet Networking Manual, 2008.

[9] 5G ACIA. Integration of Industrial Ethernet Networks with 5G Networks, 2019.

Tags: 4G5G6GcoreIndustria 4.0IoTIPNRSCTPTCP

O que é 3GPP?

15/07/2023 16:52

O Projeto de Parceria da 3ª Geração (3GPP) é uma colaboração entre sete organizações de desenvolvimento de padrões de telecomunicações em todo o mundo. Essas organizações incluem a ARIB (Association of Radio Industries and Companies) no Japão, a ATIS (Alliance for Telecommunications Industry Solutions) na América do Norte, a CCSA (China Communications Standards Association), o ETSI (European Telecommunications Standards Institute), a TSDSI (Telecommunications Standards Development Society, India), a TTA (Telecommunications Technology Association) da Coreia do Sul e a TTC (Toronto Transit Commission) no Canadá [1].

Essas organizações, conhecidas como “parceiros organizacionais”, fornecem um ambiente estável para a produção de relatórios e especificações que definem as tecnologias 3GPP, que por sua vez é responsável por definir as especificações para um sistema móvel completo, abrangendo terminais, redes de acesso de rádio, redes principais e partes da rede de serviços [1].

As especificações do 3GPP são estruturadas em diferentes versões e as discussões geralmente se referem às funcionalidades de uma versão específica. É importante destacar que todas as novas versões são compatíveis com as versões anteriores, garantindo a continuidade e interoperabilidade dos sistemas [1].

O 3GPP fornece os resultados do seu trabalho aos órgãos de padronização em cada região do mundo, que podem adotar essas especificações como normas ou recomendações formais em suas respectivas regiões. Isso permite a adoção consistente das tecnologias 3GPP em todo o mundo [1].

A figura 1 abaixo ilustra os três grupos de especificações técnicas TSG (Technical Specification Group) do 3GPP, que desempenham um papel no desenvolvimento e definição das tecnologias 3GPP [1].


Figura 1 – Os três TSGs do 3GPP [2]

Atenção: O texto acima foi extraído do TCC de Douglas Liao, intitulado Implementação de QoS em rede 5G através do Network Slicing, disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/248721.

Referências:

[1] Liao, Douglas. Implementação de QoS em rede 5G através do Network Slicing.  2023. 75 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia de Controle e Automação, Departamento de Engenharia de Controle, Automação e Computação, Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Blumenau, Blumenau, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/248721. Acesso em: 13 jul. 2023.

[2] KRAUS, Dener. Computação de borda para indústria utilizando a rede 5G. 2021. 95 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia de Controle e Automação, Departamento de Engenharia de Controle, Automação e Computação, Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Blumenau, Blumenau, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/228613. Acesso em: 13 jul. 2023.

Tags: 3GPP4G5G6G

6G: a Starlink é o futuro das redes móveis?

19/02/2022 12:37

Por Christian Mailer.

A Starlink ficou conhecida no Brasil após a Anatel autorizar a empresa a oferecer seus serviços de Internet via satélite no país [1]. Segundo a companhia, a rede de satélites de baixa órbita são capazes de prover uma conexão de alta velocidade (entre 100 Mb/s e 200 Mb/s) e baixa latência (em média 20 ms) em áreas remotas que até então possuíam conectividade fraca ou nenhuma conectividade [2]. Esse tipo de serviço é especialmente útil para cobrir zonas isoladas e aumentar o acesso da população a plataformas online, tendo em vista que quase tudo pode ser realizado pela Internet.

Órbita do StarlinkOs satélites da Starlink ficam em uma órbita baixa. Fonte: Starlink.

Serviços de Internet via satélite já existiam anteriormente, porém os altos custos, a baixa qualidade da conexão e o limite da franquia de dados não possibilitaram que esse tipo de acesso fosse oferecido em maior escala, estando restrito, normalmente, a regiões específicas.

A nova solução disponibilizada pela Starlink tem como público alvo os consumidores finais e pode ser contratada no Brasil por 530 reais mensais e com um investimento inicial de 3000 reais para compra dos equipamentos (sem contar impostos) [3].

Lançamento de satélites da StarlinkLançamento de satélites da Starlink. Fonte: Starlink.

Com o desenvolvimento desse tipo de tecnologia e, principalmente, com a sua disponibilização para o consumidor, uma questão que pode ser levantada é: a Starlink é o futuro das redes móveis?

Uma resposta para a pergunta do parágrafo anterior pode ser elaborada após analisarmos o que vem sendo discutido pela comunidade especializada e acadêmica acerca da sexta geração de rede móvel. Segundo muitos pesquisadores, o 6G deverá contar com uma ampla rede satelital que seja capaz de cobrir não somente comunicações terrestres, mas também espaciais. Em outras palavras, toda a superfície da Terra, mesmo no meio da Amazônia ou no Polo Norte, e o entorno do planeta, incluindo naves espaciais, terão cobertura 6G.

Ao comparar as propostas de requisitos de cobertura da sexta geração com o serviço oferecido pela Starlink, podemos afirmar que a empresa está seguindo na direção certa para atender as demandas de uma futura rede 6G, porém, cabe ressaltar que uma conexão via satélite não é uma conexão celular. A última é caracterizada pela cobertura em modelo de células, em que a conectividade de uma pequena área é mantida por uma antena. Justamente por ser um modelo de maior proximidade entre os dispositivos de usuário e as antenas, a arquitetura celular tende a ser mais rápida, robusta, flexível e escalável.

Se tentarmos utilizar todos os casos de uso do 5G que são cobertos pelos tipos URLLC (Ultra Reliable Low Latency Communication), eMBB (enhanced Mobile Broadband) e mMTC (massive Machine Type Communication) em uma rede satelital, veremos que não será possível atender usuários que necessitem de baixíssimas latências, alto fluxo de informações e longa durabilidade de bateria. Ou seja, aplicações industriais, de smart cities e Internet das Coisas não podem, na maioria das vezes, serem conectadas via satélite, já que seus requisitos de funcionamento não serão atendidos.

Outro fator negativo para as tecnologias de comunicação via satélite é a suscetibilidade a interferências, o que diminui a confiabilidade da rede e pode provocar instabilidades na conexão, no entanto, ainda é vantajoso para usuários que não possuem nenhuma ou com má cobertura de rede celular ou fixa na sua região.

Sendo assim, a Starlink pode não ser tão vantajosa para aplicações terrestres que possuam requisitos restritos, mas exerce um papel importante para aumentar a conectividade terrestre e espacial e serve como uma ponte entre outros tipos de tecnologias, assumindo um dos papéis de destaque nas redes 6G.

Referências

[1] Sant’ana, Jessica. Anatel autoriza Starlink, do empresário Elon Musk, a oferecer internet via satélite no Brasil. G1. Disponível em <https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/01/28/anatel-autoriza-starlink-empresa-de-elon-musk-a-oferecer-internet-via-satelite-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 15 fev. 2022.

[2] Starlink. Homepage. Disponível em <https://www.starlink.com/>. Acesso em: 15 fev. 2022.

[3] Malar, João Pedro. Internet da Starlink, empresa de Elon Musk, custará R$ 530 por mês no Brasil. CNN. Disponível em <https://www.cnnbrasil.com.br/business/internet-da-starlink-empresa-de-elon-musk-custara-r-530-por-mes-no-brasil/>. Acesso em: 15 fev. 2022.

Tags: 6GSateliteStarlink